O busão de Puno para Cusco foi uma
zona! Estava marcado para sair às 20h30 mas saiu mais de 21h. Nesse
ponto foi uma boa, pois chegaríamos em Cusco um pouco mais tarde.
Dentro do ônibus descobri que pessoas mal educadas estão espalhadas
por todos os lugares. Alguns vão te empurrando, não pedem licença,
são grossos, briguentos, discutem por tudo...
Na poltrona atrás da minha tinha uma
criança que não parava de chorar. Dentro do ônibus tinha tanta
coisa que havia mala até no corredor. Não entendi que tanto de
coisa era aquela que o povo carregava. Não sendo suficiente toda
essa bagunça, o casal das poltronas da frente, que também estava
com dois filhos, resolveu sair na porrada. Isso mesmo, na porrada! Os
dois se esbofetearam com as crianças no colo, e elas chorando, e o
resto do pessoal dentro do ônibus gritando, chamando a polícia...
foi um caos! No final não aconteceu nada, todo mundo se acalmou e de
vez em quando eles trocavam alguns murros e garrafadas.
Quando finalmente acho que estava tudo
tranquilo, meu primo, que estava sentado ao meu lado, começa a
vomitar pela janela. Aí o caos voltou... Gente gritando para fechar
a janela, criança chorando assustada com a gritaria, meu primo
vomitando, o casal se estapeando de novo... E assim forma as minhas
oito horas de viagem...
Você achou que não poderia piorar,
né? Por volta das 2h da manhã, o ônibus parou no posto da aduana
peruana. Lá há fiscalização de aduana em cada divisa de
província. Três fiscais entraram revistando tudo. Apreenderam um
monte de coisa, levaram um monte de mala e a galera só chorava,
ninguém reagia. Dentro do ônibus ficou um clima de tensão, por
parte dos peruanos por causa da possibilidade de perderem suas
coisas, e da nossa parte, que não sabíamos exatamente o que estava
acontecendo. Acho que era tudo contrabando. Depois de muito choro e
tempo parado, continuamos a viagem, e consequentemente o caos. De
tempos em tempos o ciclo se repetia: meu primo vomitando, gente
gritando para fechar a janela, criança chorando, casal se
esbofeteando e vamos que vamos!
Na rodoviária de Cusco, às 5h da
manhã, pegamos um táxi e fomos para um hostel bem massa. O jeito
foi descansar um pouco para mais tarde fazer algum passeio. Por volta
das 9h levantei e fui mandar minhas roupas sujas para a lavanderia,
acertar os passeios da tarde e do dia seguinte e também entrar em
contato com Daniel Abarca para acertarmos os detalhes da tão
esperada Trilha Inca. Antes de sair, já acertei com Edwin, no hostel
mesmo, para fazer hoje um passeio pelos templos de Qorikancha,
Sacsayhuaman, Q'enqo, Pukapukara e Tambomachay, e amanhã Vale
Sagrado. Depois dos passeios acertados, fui ligar para o Daniel. Para
minha surpresa, dizia que o telefone não existia. Então mandei um
e-mail com o endereço do hostel onde nos hospedamos.
Aproveitamos para dar uma volta na
cidade, comer e comprar algumas coisinhas. Quando chegamos na Plaza
de Armas, de repente começa uma manifestação. Era uma greve de
professores. Foi interessante acompanhar isso de perto. Eles faziam
suas reivindicações de forma pacífica, não houve nenhum tipo de
tumulto.
Paro de los maestros - a greve foi por melhores condições de trabalho. |
Paramos para lanchar num lugarzinho bem
bacana. Eu tomei um suco de laranja, abaxi e folhas de coca,
acompanhado de uma omelete de bacon com champignons. Delicioso!! Após
o lanche voltamos ao hostel para nos prepararmos para os passeios.
Esse foi o grande problema. As ruas em Cusco são todas muito
parecidas e o povo não dá informação correta, cada hora nos
mandavam para um lado. Mas no final das contas e depois de muito
andar encontramos o hostel.
Estreitas e com construções altas são características de quase todas as ruas do centro de Cusco. |
As ruas estreitas fazem com que os carros compactos sejam a preferência cusqueña. |
Às 13h30 em ponto a moça da agência
de turismo apareceu para nos buscar, como meu primo ainda não estava
se sentindo bem, ele decidiu ficar, então fui sozinho. Saí tão na
correria que esqueci a câmera digital. Ainda bem que a câmera de
filme estava na minha mochila.
A primeira parada foi no templo de
Qorikancha. Ali dá para ver claramente como os espanhóis se
impuseram para os incas. Uma igreja foi construída em cima do
templo, chegando a utilizar alguns muros incas para sustentar as
colunas da igreja.
Coluna espanhola apoiada em muro inca. |
Vista geral do Convento de Santo Domingo, construído em cima do templo de Qorikancha. |
Depois fomos para Q'enqo, nesse lugar
eram feitos os sacrifícios numa caverna embaixo da pedra. É um
templo bem mais simples que os outros, mas muito interessante também.
Em frente ao templo tem uma pedra em forma de sapo, que para os incas
representava a chuva, porque os sapos coaxam antes de chover. Além
disso, a pedra faz a sombra de um puma no solstício de verão.
Outro sítio que visitamos foi o de
Tambomachay, um lugar dedicado a água. Diz a lenda que a água de
Tambomachay traz a juventude eterna para os incas, assim como a da
Isla del Sol para os tiwanakotas. O interessante é que ninguém sabe
onde fica a fonte. Os incas guardavam como segredo de estado o lugar
da fonte porque o primeiro tipo de ataque dos inimigos era envenenar
a fonte das cidades.
O último templo visitado foi
Pukapukara, que foi uma espécie de albergue dos incas. Lá os que
estavam em viagem pelas cidades podiam descansar. O lugar também
servia de base para os mensageiros e havia um desse a cada 25 km
entre os caminhos que ligavam o império inca. Infelizmente chegamos
a Pukapukara de noite, o que não nos deixou admirar muito as ruínas,
mas foi uma experiência muito legal andar por lá somente sob a luz
da lua. Não tenho muitas fotos desses lugares porque esqueci a S90
no hostel e levei somente a F-1. Voltando para Cusco paramos numa
feira de artesanato. Cheguei a Plaza de Armas por volta das 19h.
Quando cheguei ao hostel, Daniel Abarca
estava me esperando para nos dar as instruções para a Trilha Inca.
Daniel é um cara muito gente boa e atencioso. Conversamos bastante
sobre Cusco, incas e passeios. Depois da conversa fomos jantar no Mc
Donald's e depois dormir para o tour de amanhã, que será Pisac,
Ollantaytambo e Chincero.