Acordei às 8h. Até que dormi bem.
Arrumei as minhas coisas e fui tomar o, agora habitual, café com
tipá. Me despedi do povo e subi para o Posto de Saúde. Lá, meu pai
já me aguardava para irmos para casa. Doce retorno!!!
Voltar para o conforto de casa foi
muito bom, mas mesmo não estando mais em terras indígenas, até
hoje carrego comigo muito do que vivi na Boa Vista. Além das
lembranças e dos frutos desse trabalho que eu colho ainda hoje
(vivenciei essa experiência em julho de 2006), basicamente três
momentos proporcionaram uma grande mudança em mim. Na verdade duas
mudanças e uma certeza.
A primeira é que a felicidade está
diretamente atrelada ao que somos, e não ao que possuímos. Os
indígenas da Boa Vista são muito felizes coma vida que levam, e
isso é verdadeiro. Não acredito que a felicidade possa ser encenada
diariamente por tanto tempo quanto fiquei morando lá com eles. Como
me disseram, para eles tudo que é necessário para uma vida feliz é
um teto para dormir, comida para comer e o petyguá para fumar, ou
seja, um local para descanso, alimento para o corpo e alimento para a
alma.
A segunda é que somos o que somos e
isso deve nos bastar. Não adianta tentarmos ser aquilo que não
podemos, ou que não está em nossa essência. Deve gostar do que
somos e nos dedicar para sermos os melhores que somos. Em uma
conversa com Tupã, perguntei a ele quais eram as vantagens e
desvantagens de ser índio, e ele me respondeu: “Não tem vantagem
nem desvantagem, cada um gosta de ser o que é.” Como tudo na vida
dos guaranis mbyá, a resposta foi simples e contundente.
E a certeza que essa experiência me
trouxe, e que posso afirmar com convicção que vai ficar marcada por
toda a minha vida, foi em uma tarde de sol, depois do almoço. Eu
estava sentado na porta da Opy, vendo as crianças brincarem enquanto
fazia algumas anotações, quando parei e observei atentamente o que
acontecia, o que eu anotava. Com a câmera pendurada no pescoço e
com as várias histórias que ouvi e presenciei na minha cabeça,
naquele exato momento tive a certeza de que era aquilo que eu queria
para toda a minha vida: ser jornalista!!