segunda-feira, 15 de abril de 2013

Diário de um branco na Aldeia Boa Vista - Último dia


Acordei às 8h. Até que dormi bem. Arrumei as minhas coisas e fui tomar o, agora habitual, café com tipá. Me despedi do povo e subi para o Posto de Saúde. Lá, meu pai já me aguardava para irmos para casa. Doce retorno!!!

Voltar para o conforto de casa foi muito bom, mas mesmo não estando mais em terras indígenas, até hoje carrego comigo muito do que vivi na Boa Vista. Além das lembranças e dos frutos desse trabalho que eu colho ainda hoje (vivenciei essa experiência em julho de 2006), basicamente três momentos proporcionaram uma grande mudança em mim. Na verdade duas mudanças e uma certeza.

A primeira é que a felicidade está diretamente atrelada ao que somos, e não ao que possuímos. Os indígenas da Boa Vista são muito felizes coma vida que levam, e isso é verdadeiro. Não acredito que a felicidade possa ser encenada diariamente por tanto tempo quanto fiquei morando lá com eles. Como me disseram, para eles tudo que é necessário para uma vida feliz é um teto para dormir, comida para comer e o petyguá para fumar, ou seja, um local para descanso, alimento para o corpo e alimento para a alma.

A segunda é que somos o que somos e isso deve nos bastar. Não adianta tentarmos ser aquilo que não podemos, ou que não está em nossa essência. Deve gostar do que somos e nos dedicar para sermos os melhores que somos. Em uma conversa com Tupã, perguntei a ele quais eram as vantagens e desvantagens de ser índio, e ele me respondeu: “Não tem vantagem nem desvantagem, cada um gosta de ser o que é.” Como tudo na vida dos guaranis mbyá, a resposta foi simples e contundente.

E a certeza que essa experiência me trouxe, e que posso afirmar com convicção que vai ficar marcada por toda a minha vida, foi em uma tarde de sol, depois do almoço. Eu estava sentado na porta da Opy, vendo as crianças brincarem enquanto fazia algumas anotações, quando parei e observei atentamente o que acontecia, o que eu anotava. Com a câmera pendurada no pescoço e com as várias histórias que ouvi e presenciei na minha cabeça, naquele exato momento tive a certeza de que era aquilo que eu queria para toda a minha vida: ser jornalista!!
















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