segunda-feira, 25 de março de 2013

Diário de um branco na Aldeia Boa Vista - 16º dia

Essa noite dormi melhor que na noite passada. Se bem que às 6h já tinha criança aqui na Casa de Reza fazendo bagunça. Tomei café e voltei para a Opy, pois haveria mais uma reunião com o pessoal da Comissão Pró Índio. Enquanto esperava a reunião, fiquei conversando com Seu Orlando.

Ele Nasceu ma Aldeia Rio Silveira, em São Sebastião. Veio para a Boa Vista com a família há 30 anos. Os guaranis, principalmente os mais velhos, não dão muito importância para datas ou contagem do tempo, “isso é coisa de branco”, diz Orlando.

Seu Orlando, cujo nome em guarani é Werá Axá.

Seu Orlando, ou Werá Axá, já caçou, cortou palmito e fez artesanato. Hoje, aos 74 anos, se dedica totalmente à sua plantação, que ele chama de jardim. O velho índio se orgulha d ter um grande jardim e cuidar dele sozinho, pois lá moram somente ele e a esposa. Eles estão juntos há mais de 50 anos, e moram naquela mesma casinha desde que vieram para a Boa Vista.

No pomar de Seu Orlando, tem de tudo, palmito, banana, jaca, jabuticaba, laranja, jambolão, açaí. Tem também guaricanga. Era com a palha dessa espécie de palmeira que os índio cobriam suas casa antigamente. Hoje não se cobre mais com essa folhagem por dois motivos: ela está sumindo da região e também porque a Polícia Ambiental proibiu.

Depois do bate papo com seu Orlando e da reunião, saí com Tupã e Werá pintado para guerra para fazermos umas fotos. Foi bem legal!

Tupã

Werá

O cocar na parte superior da foto é o usado pelo pajé, o da parte inferior é o do cacique.






Na volta, conversei com Tiró sobre o adorno que ele usa nas pernas. Ele me disse que quando vem a primeira menstruação das meninas, elas raspam a cabeça e tem que ficar deitadas por um mês,, comendo o mínimo possível. Dos cabelos, são feitos esses adornos que são colocados nas pernas dos xondáros mais velhos, tendo a função de dar mais força às pernas deles.

Adorno para fortalecer as pernas dos xondáros.

Agora só faltam três. Quando eu chegar em Taubaté para entregar os filmes para revelar, quero tomar meio litro de açaí com leite condensado!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Diário de um branco na Aldeia Boa Vista - 15º dia


Mais uma noite mal dormida. Sabe, estou até começando a gostar de dormir mal... Me resta apenas quatro dias nessa experiência na aldeia. Meu trabalho está praticamente pronto.

Hoje teve reunião da comunidade com membros da Comissão Pró Índio. A pauta foi corte racional de palmito. Por causa do corte desordenado, o palmito jussara está sumindo da reserva. O pessoal da Comissão veio para conscientizar a comunidade e para ensinar o plantio correto do palmito.

Não houve novidades durante o dia. À noite ficamos na beira da fogueira tomando café e contando piadas. Depois da cerimônia, Tiró e os rapazes ficaram tocando e dançando xondáro.

Seu Altino, o cacique, em reunião com membros da Funasa e da Comissão Pró Índio.

Aqui, acertando detalhes da construção das ocas de alvenaria com o engenheiro da CDHU.

Jovem índia cuidando do almoço e das crianças.

O artesanato fica a cargo das mulheres da aldeia.

Em dia de trabalho coletivo, enquanto os homens vão para a roça, as mulheres preparam o almoço.

Seu Maurício, além de vice-cacique, é o responsável pela manutenção da aldeia.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Diário de um branco na Aldeia Boa Vista - 14º dia

Acordei às 7h30 depois de uma boa noite de sono. Depois de uma não, depois da primeira boa noite de sono! Foi a primeira vez que eu dormi bem aqui, até tive a sensação de estar deitado na cama. Só acordei com o gato miando. Segundo os índios, ele miava por causa das estripulias que o saci estava fazendo na Casa de Reza; o saci veio bagunçar porque eu assobiei de noite.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Diário de um branco na Aldeia Boa Vista - 13º dia


Acordei às 7h30. Organizei minhas coisas, lavei o rosto, escovei os dentes. Tomei café. Depois começaram os preparativos para o dia de pescaria. Cortar taquara para fazer vara, separar os anzóis, a linha. Ah! Muito importante, pegar os ingredientes para fazer tipá para comermos lá no Rio Puruba, nosso local de pescaria. Tudo preparado. Começamos nossa caminhada. Eu estava vestido com calça e blusa. Em meio à mata atlântica, o calor é grande, mas optei pela calça e pela blusa por causa dos borrachudos (bariguis).