quarta-feira, 26 de junho de 2013

Caminos Andinos - 7º dia

O busão de Puno para Cusco foi uma zona! Estava marcado para sair às 20h30 mas saiu mais de 21h. Nesse ponto foi uma boa, pois chegaríamos em Cusco um pouco mais tarde. Dentro do ônibus descobri que pessoas mal educadas estão espalhadas por todos os lugares. Alguns vão te empurrando, não pedem licença, são grossos, briguentos, discutem por tudo...

Na poltrona atrás da minha tinha uma criança que não parava de chorar. Dentro do ônibus tinha tanta coisa que havia mala até no corredor. Não entendi que tanto de coisa era aquela que o povo carregava. Não sendo suficiente toda essa bagunça, o casal das poltronas da frente, que também estava com dois filhos, resolveu sair na porrada. Isso mesmo, na porrada! Os dois se esbofetearam com as crianças no colo, e elas chorando, e o resto do pessoal dentro do ônibus gritando, chamando a polícia... foi um caos! No final não aconteceu nada, todo mundo se acalmou e de vez em quando eles trocavam alguns murros e garrafadas.

Quando finalmente acho que estava tudo tranquilo, meu primo, que estava sentado ao meu lado, começa a vomitar pela janela. Aí o caos voltou... Gente gritando para fechar a janela, criança chorando assustada com a gritaria, meu primo vomitando, o casal se estapeando de novo... E assim forma as minhas oito horas de viagem...

Você achou que não poderia piorar, né? Por volta das 2h da manhã, o ônibus parou no posto da aduana peruana. Lá há fiscalização de aduana em cada divisa de província. Três fiscais entraram revistando tudo. Apreenderam um monte de coisa, levaram um monte de mala e a galera só chorava, ninguém reagia. Dentro do ônibus ficou um clima de tensão, por parte dos peruanos por causa da possibilidade de perderem suas coisas, e da nossa parte, que não sabíamos exatamente o que estava acontecendo. Acho que era tudo contrabando. Depois de muito choro e tempo parado, continuamos a viagem, e consequentemente o caos. De tempos em tempos o ciclo se repetia: meu primo vomitando, gente gritando para fechar a janela, criança chorando, casal se esbofeteando e vamos que vamos!

Na rodoviária de Cusco, às 5h da manhã, pegamos um táxi e fomos para um hostel bem massa. O jeito foi descansar um pouco para mais tarde fazer algum passeio. Por volta das 9h levantei e fui mandar minhas roupas sujas para a lavanderia, acertar os passeios da tarde e do dia seguinte e também entrar em contato com Daniel Abarca para acertarmos os detalhes da tão esperada Trilha Inca. Antes de sair, já acertei com Edwin, no hostel mesmo, para fazer hoje um passeio pelos templos de Qorikancha, Sacsayhuaman, Q'enqo, Pukapukara e Tambomachay, e amanhã Vale Sagrado. Depois dos passeios acertados, fui ligar para o Daniel. Para minha surpresa, dizia que o telefone não existia. Então mandei um e-mail com o endereço do hostel onde nos hospedamos.

Aproveitamos para dar uma volta na cidade, comer e comprar algumas coisinhas. Quando chegamos na Plaza de Armas, de repente começa uma manifestação. Era uma greve de professores. Foi interessante acompanhar isso de perto. Eles faziam suas reivindicações de forma pacífica, não houve nenhum tipo de tumulto.

Paro de los maestros - a greve foi por melhores condições de trabalho.


Paramos para lanchar num lugarzinho bem bacana. Eu tomei um suco de laranja, abaxi e folhas de coca, acompanhado de uma omelete de bacon com champignons. Delicioso!! Após o lanche voltamos ao hostel para nos prepararmos para os passeios. Esse foi o grande problema. As ruas em Cusco são todas muito parecidas e o povo não dá informação correta, cada hora nos mandavam para um lado. Mas no final das contas e depois de muito andar encontramos o hostel.

Estreitas e com construções altas são características de quase todas as ruas do centro de Cusco.

As ruas estreitas fazem com que os carros compactos sejam a preferência cusqueña.

Às 13h30 em ponto a moça da agência de turismo apareceu para nos buscar, como meu primo ainda não estava se sentindo bem, ele decidiu ficar, então fui sozinho. Saí tão na correria que esqueci a câmera digital. Ainda bem que a câmera de filme estava na minha mochila.

A primeira parada foi no templo de Qorikancha. Ali dá para ver claramente como os espanhóis se impuseram para os incas. Uma igreja foi construída em cima do templo, chegando a utilizar alguns muros incas para sustentar as colunas da igreja.

Coluna espanhola apoiada em muro inca.

Vista geral do Convento de Santo Domingo, construído em cima do templo de Qorikancha.

Depois fomos para Q'enqo, nesse lugar eram feitos os sacrifícios numa caverna embaixo da pedra. É um templo bem mais simples que os outros, mas muito interessante também. Em frente ao templo tem uma pedra em forma de sapo, que para os incas representava a chuva, porque os sapos coaxam antes de chover. Além disso, a pedra faz a sombra de um puma no solstício de verão.

Outro sítio que visitamos foi o de Tambomachay, um lugar dedicado a água. Diz a lenda que a água de Tambomachay traz a juventude eterna para os incas, assim como a da Isla del Sol para os tiwanakotas. O interessante é que ninguém sabe onde fica a fonte. Os incas guardavam como segredo de estado o lugar da fonte porque o primeiro tipo de ataque dos inimigos era envenenar a fonte das cidades.

O último templo visitado foi Pukapukara, que foi uma espécie de albergue dos incas. Lá os que estavam em viagem pelas cidades podiam descansar. O lugar também servia de base para os mensageiros e havia um desse a cada 25 km entre os caminhos que ligavam o império inca. Infelizmente chegamos a Pukapukara de noite, o que não nos deixou admirar muito as ruínas, mas foi uma experiência muito legal andar por lá somente sob a luz da lua. Não tenho muitas fotos desses lugares porque esqueci a S90 no hostel e levei somente a F-1. Voltando para Cusco paramos numa feira de artesanato. Cheguei a Plaza de Armas por volta das 19h.


Quando cheguei ao hostel, Daniel Abarca estava me esperando para nos dar as instruções para a Trilha Inca. Daniel é um cara muito gente boa e atencioso. Conversamos bastante sobre Cusco, incas e passeios. Depois da conversa fomos jantar no Mc Donald's e depois dormir para o tour de amanhã, que será Pisac, Ollantaytambo e Chincero.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Caminos Andinos - 6º dia

Acordamos às 6h da manhã para ver o sol nascer e hacermos desayuno, pois às 7h deveríamos sair de barco para conhecer o lado norte da Isla del Sol. Como tudo naquela ilha, o nascer do sol foi fantástico, digo de aplauso. Acompanhamos esse espetáculo enquanto tomávamos café, que por sinal foi o melhor café da manhã até agora. O povo da Isla del Sol é muito caprichoso! Gostei muito desse lugar!

Assim como tudo nessa Isla, o nascer do sol é fantástico!
 

Após o café, pegamos nossas coisas e descemos até o porto. Não sem antes passar na Fonte da Juventude Eterna para tomar um pouco d'água. Ser eternamente jovem até que não é uma má ideia...

Já na descida rumo ao porto, a certeza de que a Isla del Sol seria um lugar inesquecível já tomava conta de mim.

Embarcamos rumo ao lado norte da isla. Como da primeira vez que o vimos, a grandeza do Titicaca surpreende. Adélio Ramos, nossos guia, nos falou dos peixes do lago. O que me deixou abismado foi ele ter dito que lá havia trutas de mais de 1 metro de comprimento. No Brasil as trutas tem em média 30 cm. Outra informação surpreendente foi que na época de chuva o Titicaca chega a subir seu nível em 1 metro. Imagina o quanto não chove nesse lugar para fazer um lago de 8 mil km² subir 1 metro!

Depois de aproximadamente uma hora de viagem chegamos ao lado norte. A baía onde atracamos é linda. Na pequena praia de cascalhos uma água tão clara que estaria facilmente igualada com as do Caribe ou Polinésia. O mais legal foi saber que um brasileiro estava acampado nessa praia há 4 meses. Nesses quatro meses só pescando, caminhando, remando, pensando... Que doidera! Infelizmente não pudemos ir conversar com ele pois nosso tempo estava apertado.

Porto do lado norte da ilha.
Lá em baixo a barraca do brasileiro que tem como paisagem de sua porta essa pintura.

A paisagem do lado norte é bem diferente do lado sul. No norte é quase tudo pedra e não tem árvores, apenas alguma vegetação rasteira. Nossa primeira visita foi na Roca Sagrada, a pedra que representa o puma, e logo depois a pedra do descanso da lua. Assim como no lado sul, essas ruínas são tiwanakotas. Para eles, a divindade era representada pelo condor, simbolizando o céu e os deuses; pelo puma, simbolizando a terra e a vida dos homens; e a serpente, simbolizando o subsolo e a vida após a morte. Logo em frente a Roca Sagrada está o altar de sacrifício, ali em todo solstício de verão, assim que o sol transpusesse a Roca Sagrada, uma virgem era sacrificada em agradecimento ao deus maior.

Roca Sagrada

Rocha do descanso da lua.

Altar de Sacrifício.

Em seguida fomos ao labirinto de pedra, que foi um templo religioso e servia de abrigo para os outros tiwanakotas que vinham em peregrinação a esse templo. Dentro dele há uma fonte de água natural que, segundo eles, cura todas as enfermidades. Tomei essa água também, uma vez que tomei a água da juventude eterna, nada melhor do que ser eternamente jovem e saudável!

O labirinto foi um misto de templo e albergue tiwanakota.

Como tudo que foi construído pelos tiwanakotas, o posicionamento da construção em relação a posição do sol foi estratégico.
Não se sabe muito sobre a origem dessa fonte de água, apenas se sabe que essa água não vem do Titicaca.

Todos os tiwanakotas que chegavam ao templo com alguma enfermidade, após beber dessa água , retornavam curados para as suas casas,

Muitas fotos depois, voltamos embora. Estava encerrada nossa estadia nesse lugar maravilhoso chamado Isla del Sol. Como não haveria tempo para voltarmos no barco das 10h, acertamos para que voltássemos direto do lado norte da ilha para Copacabana. Foi uma viagem muito gostosa.

Última vista da ilha que marcou nossa passagem pela Bolívia.

Retorno tranquilo pelas águas calmas do Titicaca.

Chegamos em Copacabana cedo, dando-nos tempo para almoçar tranquilamente antes de ir para Puno. Nosso almoço foi milanesa napolitana, algo que tentar ser o nosso bife à parmegiana, com a diferença de que o queijo é branco e empanado também. Estava muito bom! Às 13h30 partimos para Puno. Pouco depois chegamos à fronteira, onde carimbamos a saída da Bolívia e a entrada no Peru. O lado peruano é bem mais bonito e organizado. Foi tudo tranquilo nessa parte.

Ainda no ônibus, acertamos como Sr. Max a nossa passagem de Puno para Cusco e um passeio para as Islas Flotantes de Uros por Bs. 140. Nisso incluso o táxi da rodoviária para o porto, a lancha para as ilhas, entrada nas ilhas e táxi de volta para a rodoviária. Acho que fizemos um bom negócio. Aqui é interessante a possibilidade de se negociar por tudo. Posso deixar como exemplo a nossa viagem no trem da morte: a passagem custava Bs. 127 no guichê, nós pagamos BS. 120 mesmo não havendo mais passagens para venda. A paisagem no caminho entre Copacabana e Puno não muda muito, a diferença é que do lado peruano tem muito mais rocha, o que pode ser um paraíso para quem escala. Infelizmente, também notei que na parte peruana também tem muito mais lixo jogado por aí.

Paisagem repleta de rochas que acompanha o trajeto entre Copacabana e Puno.

Chegamos em Puno às 16h, hora local, digo hora local porque Puno tem uma hora a menos de fuso em relação a Copacabana, ou seja, duas horas a menos que no Brasil. Apesar do receio de ter levado um calote do SR. Max, deu tudo certo. Chegamos em Puno e ele nos levou para retirarmos as passagens e para guardarmos as mochilas numa sala trancada na agência. Logo após saímos para o passeio para as Islas Flotantes.

Foi tudo com combinado, táxi barco, entradas. O guia desta vez era um jovem bem simpático. Achei interessante a forma que o guia falou do lado boliviano do lago, um tom de desdenho podia ser percebido, e ainda completou dizendo que os bolivianos falam da mesma maneira. O que não é verdade. Enquanto estivemos lá, nenhum boliviano falou mal do lado peruano.

As islas flotantes são legais, mas dá para perceber que são totalmente comerciais. É muito interessante a forma que são construídas. As crianças de lá são bem legais, e lembram muito as crianças da aldeia guarani em que morei, são alegres, sorridente e principalmente curiosas. Depois da visita, antes de voltar a Puno, passamos no restaurante das ilhas pata tomar um mate de coca. Esse estava muito bom e diferente, porque foi adoçado com açúcar mascavo.
Várias pequenas ilhas formam o conjunto conhecido como Islas Flotantes.

Aqui uma pequena maquete mostrando o funcionamento de cada pequena ilha.

No passeio conhecemos o interior das casas onde antigamente moravam os Uros.




Na volta, o comandante do barco deu carona para um pessoal da ilha, mas o que era para ser uma viagem de 25 minutos demorou quase uma hora. No meio do caminho o motor do barco parou de funcionar. Ficamos ali, naquele breu, no meio do nada, vendo os caras tentando consertar o barco. Mas no final deu tudo certo e voltamos.


O táxi nos deixou na rodoviária por volta das 19h30. Como o ônibus estava marcado para às 20h30, deu tempo de comer, usar a internet e o banheiro. Às 20h fomos ao guichê da agência buscar as mochilas e advinha: não tinha ninguém e estava trancado. Nesse momento me bateu um leve desespero. Pensei milhões de coisas, todas ruins claro, mas depois de uns cinco minutos que pareceram uma eternidade o cara apareceu. Pegamos nossas coisas e embarcamos em direção à Cusco. Meu sonho de conhecer Machu Picchu estava cada vez mais próximo!

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Caminos Andinos - 5º dia

Acordamos às 6h45 para terminarmos de arrumar as coisas e depois irmos para o desayuno. Às 7h estávamos prontos para o café, que foi simples: café, pão com manteiga e um negocio que parecia doce de abóbora aguado. Às 7h30 a moça do ônibus veio nos buscar no hostel. O ônibus estava lotado de gringo. Ao meu lado estavam alguns israelenses. Êita povo espaçoso! Não estão nem aí se estão incomodando. Demoramos para sair de La Paz porque estava acontecendo um protesto e a polícia tinha fechado várias ruas do centro, o que fez o ônibus dar várias voltas.

A viagem foi tranquila, principalmente porque os israelenses dormiram. Por volta das 10h30 chegamos a São Pedro de Tiquina, cidade onde atravessamos o Lago Titicaca de lancha e o ônibus de balsa. Só estando lá e vendo com os próprios olhos é que entendemos uma pequena parte da grandiosidade do lago. Ele parece um mar de tão grande. A água é extremamente cristalina. Fico pensando como deve ter sido encontrar tudo isso em uma região que está a quase 4 mil metros de altitude. São 8 milhões de metros quadrados numa altitude que é mais que o dobro da de Campos do Jordão/SP! Não foi à toa que os tiwanakotas viveram nesta região por mais de 3 mil anos.



Água transparente e gelada, assim é o Titicaca durante o ano todo.

Aqui já dava para ver a imponência do Titicaca.

Chegamos em Copacabana por volta do meio dia. Foi o tempo de comprar as passagens para o barco da Isla del Sol e almoçar. Como estávamos na beira do Titicaca, não poderíamos deixar de comer trucha. Às 13h30 embarcamos na lancha Titicaca. Um grupo subiu à bordo e fez um som regional muito bom. Mereceram os aplausos e as gorgetas!

Nosso transporte para o paraíso.

Músicos locais fazendo sua arte. Tem um vídeo deles tocando no post "Vem aí".

O barco estava lotado de gringos, inclusive os israelenses. Mas o que mais me chamou atenção foi uma família boliviana indo conhecer a isla. Mais uma vez me questionei, qual será a porcentagem de bolivianos que conhecem suas riquezas naturais e seus patrimônios culturais? Será que já visitaram essas mesmas riquezas que são invadidas por estrangeiros todos os anos? Que doidera...

Ainda no barco fechamos com o guia para fazermos um tour de duas horas pela isla. Isso também é muito interessante, você olha para o guia e não dá nada para ele, mas o cara se expressa muito bem e fala inglês fluentemente! Fomos no banco que fica no teto do barco. O vento estava bem frio, mas o visual compensava. A chegada na ilha parecia coisa de cinema. Água transparente, paisagem linda. Desembarcamos com nossas mochilas, pois decidimos pernoitar na Isla.

O visual é tão exuberante que vale o frio de ir em cima do barco!

Quase chegando no porto da Isla del Sol.

O tour começou ali mesmo, quando Andrés mostrou a estátua de Manco Kapac, grande líder tiwanakota. A parada seguinte foi na fonte da juventude eterna. Depois paramos um pouco mais acima, no hostel que iriamos ficar. Cheguei no hostel quase sem fôlego, não foi nada fácil subir quase 300 metros de escada, com a mochila pesada nas costas e a 3800 metros de altitude!

Manco Kapac, figura mais expressiva do império tiwanakota, está na beira do porto para receber todos os turistas.

Depois de alojados, continuamos o tour. Fomos ao miradouro, onde Andrés nos falou sobre as dimensões do lago, e mostrou os lados peruano e boliviano. Ele também nos contou que ele e todos os outros habitantes da ilha são aymarás, ou seja, decendentes diretos dos tiwanakotas. Logo em seguida fomos às ruínas de um templo. Assim que o passeio acabou, voltamos para o hostel para trocal o filme da F-1 e a bateria da S90, para depois retornarmos ao miradouro para contemplar e fotografar o pôr do sol e o nascer da lua.
Os hosteis da Isla del Sol são casas de família adaptadas para receber os turistas.

Ruínas do templo do lado sul da Isla del Sol vista do miradouro.

Parte do templo foi reconstruída pelos próprios moradores depois de ter desabado devido às fortes chuvas.

Andrés, nosso guia, explicando sobre a cultura tiwanakota.

A paisagem é fantástica! Abaixo o lago e ao fundo a cordilheira dos andes... É impossível ver tudo isso e não parar para pensar na vida. Sou extremamente feliz porque trabalho no que gosto, tenho um bom emprego, minha família, apesar de muito louca, é sensacional e tenho uma meio namorada meio amiga colorida que é demais!!! O que posso querer mais desta vida?? Ah... eu sei... queria muito que meu irmão estivesse comigo. O Lucianão ia adorar tudo isso! Nós já brigamos muito, mas muito mesmo, mas hoje eu sei o real significado da palavra irmão por causa dele! Ainda vamos juntos fazer snowboard em algum lugar por aí! Também seria perfeito se a Paulinha estivesse junto. Ela ia amar essa vivência de uma cultura bem diferente da nossa. Sem contar que a companhia dela é perfeita em todos os momentos! Sou um cara de muita sorte! O pôr do sol foi maravilhoso, digno de uma lágrima escorrendo pelo meu rosto depois de contemplar esse espetáculo magnífico e pensar em tudo que eu descrevi acima.

O Pôr do Sol na Isla del Sol tem uma energia tão boa que fica difícil descrever com palavras.

Depois do pôr do sol, ficamos esperando a lua nascer. Nossa estadia na Isla del Sol coincidiu com a lua cheia. Fazia tempo que eu não ficava esperando para fotografar alguma coisa. Foi muito legal, eu estava quase esquecendo como isso é bom! Enquanto a luna não nascia, aproveitei para fotografar o céu, em especial as 3 Marias, para dar de presente para alguém ainda mais especial!

O céu na Isla é tão estrelado que foi difícil encontrar a constelação das Três Marias.

A lua nasceu num espetáculo tão grandioso quanto o pôr do sol! Fotografei mais um pouco e voltamos para o hostel. Voltei pensando mais um pouco na vida e também no que Amyr Klink fala: temos que ir ver as coisas com nossos próprios olhos. Isso é a mais pura verdade. Só assim poderemos compreender a magnitude das coisas!

Poder contemplar um pôr do sol majestoso e um nascer da lua magnífico, são atrativos que fazem o pernoite na Isla del Sol valer a pena!


Amanhã às 7h saíremos de barco para conhecer o outro lado da isla, o lado norte. E para encerrar, como nem tudo são flores, para compensar a vista deslumbrante que temos no quarto, o chuveiro não esquenta... Vou tomar banho só lá em Cusco!

Vista que me fez deixar de lado o banho quente. Você trocaria?

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Caminos Andinos - 4º dia

O ônibus saiu de Santa Cruz com meia hora de atraso. Tudo bem, foi o primeiro atraso que tivemos. Até que o ônibus é confortável e oferece cobertor aos passageiros. Na hora do embarque descobrimos que uma galerinha que havíamos conhecido durante nosso tour no trem também iria neste ônibus. Detalhe sobre o embarque: na Bolívia temos que pagar a taxa de embarque separado da passagem. A taxa é paga diretamente no guichê da administração do terminal e custa 3 Bs.

Já dentro do busão, nos acomodamos na frente do ônibus, enquanto o resto da galera foi para o fundão. A saída de Santa Cruz foi tranquila, apesar do calor infernal que fazia. Para variar fui dormindo. Por volta das 17h o motorista parou na beira da estrada para lancharmos. Ele disse que a próxima parada seria apenas em La Paz. Tomei um suco de chicha, uma espécie de milho rosado e comi uma empanada de queso, muito gostosa por sinal. Depois disso continuamos viagem.

Andamos, andamos, andamos e nada da paisagem mudar. Nada de montanhas, nada de frio e o calor continuava. Por volta das 23h começamos a subir uma Serra. Ela era uma mistura de serra de Ubatuba, por causa das curvas, com a serra de Campos do Jordão, por causa das obras, tudo isso somado ao tráfego de caminhão da Régis Bitencourt. E os pedágios? Tem muito mais pedágios que no Brasil. E na Bolívia é uma zona, são duas cabines para atender todo mundo! Deixei essa bagunça toda de lado e voltei a dormir. Apesar de longa, estava sendo uma viagem tranquila.

Foi tranquila até chegarmos ao Altiplano Boliviano. Por volta das 4h, próximo a cidade de El Alto, fui apresentado ao soroche: o famoso mal da altitude. Meu estômago embrulhou, como se a todo instante eu quisesse vomitar, e realmente queria! Minha respiração ficou difícil e, para ajudar, o frio apertou. Para se ter uma ideia, o vidro do ônibus congelou com ele em movimento. Nunca tinha visto isso antes.

Minha madrugada de soroche foi intercalada entre respirações profundas, para recuperar o fôlego; engolidas secas de cuspe, para evitar o vômito; e encolhidas embaixo do cobertor para esquentar o frio. O problema foi que se eu me cobria, me dava ânsia; se eu engolia cuspe, me faltava ar e se eu respirava fundo, ficava com frio... Maldito soroche, pega a gente de jeito e não tem como escapar. E o pior é que demora para passar.

Teve um momento que eu achei que ia vomitar. Não estava conseguindo segurar. Com muito custo, levantei da minha poltrona, atravessei o ônibus todo, fui ao banheiro e não acreditei, às 5h da manhã tinha um cidadão lá! Nesse instante achei que ia vomitar no corredor mesmo. Felizmente consegui segurar e voltei pro meu lugar. Ficar ali em pé com o ônibus chacoalhando estava pior. Fiquei na minha poltrona me concentrando para não passar mal, sem dormir e contando o tempo para chegar logo em La Paz. Mais ou menos às 6h30 meu primo acordou e quis conversar, não deu outra, voltei a passar mal. Não era o meu dia mesmo! Mas nem tudo foi ruim. Chegamos em La Paz no horário previsto, e já de cara conseguimos táxi, albergue e passeio para Tiwanaku, desse jeito ganhamos um dia para dormirmos na Isla do Sol.

Escolhemos o Hostel Palace Lion para nos hospedarmos, um lugar bem legal. Depois de 4 dias finalmente teríamos banho quente e uma cama para dormir. Deixamos as coisas no quarto e fomos para o passeio. Eu ainda estava passando mal, mas não perderia esse passeio por soroche nenhum.

Às 9h um ônibus micro-ônibus chinês parou em frente ao hostel. Nós e a galera que veio no ônibus ficamos no mesmo hostel e fechamos de fazer o mesmo passeio. Se juntaram a nós mais três inglesas, 1 neozelandesa, duas argentinas e mais duas brasileiras. São 75 km de La Paz até Tiwanaku, que fizemos em duas horas por causa da potência do micro chinês. O sítio arqueológico é separado em quatro partes: dois museus e dois sítios em campo aberto.

Grupo Brazuca indo em direção ao Sítio Arqueológico de Tiwanaku.

Portal do sítio da principal cidade da civilização que viveu por mais tempo no altiplano dos andes.

Galerinha de várias nacionalidades prontos para conhecer Tiwanaku.

Primeiro fomos ao museu onde estão importantes manuscritos. A história é bem interessante, pena que é proibido fotografar. Logo depois fomos para o primeiro sítio em campo aberto, ali pudemos ver o quase nada que sobrou de uma civilização que viveu por quase 3 mil anos naquela região. O território dos tiwanakotas ia desde o sul do Peru, até o sul dos Andes Bolivianos e parte do norte do Chile. Mesmo tendo sido exterminados em 1.200 d.C., eles já dominavam a engenharia, a astronomia e fabricavam ferramentas de ferro fundido. O resto da história não acompanhei porque caminhar no sol fez meu soroche piorar. Mesmo assim andei bastante, vi bastante e fotografei bastante. Quase no final, o Zé, um dos brasileiros que conhecemos no Trem de Santa Cruz, me ofereceu um soroche pill, uma pílula vendida aos turistas que ameniza os efeitos do soroche. Isso me fez melhorar um pouco.

Maquete do maior sítio arqueológico em campo aberto de Tiwanaku.

Monolito de pedra com representação religiosa.

Pedra usada pelos tiwanakotas para fazer ferramentas em ferro fundido.

Portal do Sol.

Mesmo sem a engenharia de encaixe perfeita dos incas, os tiwanakotas foram os que habitaram o altiplano andino por mais tempo.

O perfeito alinhamento entre os muros, o portal do sol e o monolito servia de referência para mostrar aos tiwanakotas o dia exato do solstício de verão.

Após conhecer todas as ruínas, fomos almoçar. Eu já estava melhor, mas não 100%. Entre as opções de refeição eu escolhi sopa de quinoa e legumes cozidos, arroz e truta do lago Titicaca. Outra opção era bife de lhama, mas como ainda estava um pouco mareado, preferi deixar para experimentar em uma outra oportunidade.

Depois do almoço fomos ao sítio em campo aberto de Puma Punku, que é bem legal mas bem menor que o primeiro. E finalizamos o passeio no museu de cerâmica. Muito interessante, tendo como destaque uma múmia muito bem conservada até hoje. Ela também não pode ser fotografada. Fim do passeio. A volta para o albergue foi bem tranquila e eu já estava bem melhor.

Acredita-se que Puma Punku era uma área reservada para a circulação de sacerdotes e da elite tiwanakota.

Além das pedras esculpidas, este local pode ter sido adornado também com metais polidos.
 
Apesar de ser um local elitizado, hoje Puma Punku perde para a imponência de Tiwanaku.

Os símbolos esculpidos nas pedras são de uma precisão ímpar.

A volta também demorou duas horas devido à idade do veículo.
Chegando em La Paz, ficamos no centro para trocar mais dinheiro e aproveitar para comprar algumas coisas. Voltamos ao hostel e fechamos a passagem para Copacabana. Demos sorte pois compramos as duas últimas passagens que saem às 7h30 da porta do hostel. Com essa vinda direta de Santa Cruz para La Paz, e a saída para Copacabana às 7h30, poderemos dormir na Isla del Sol para contemplarmos a lua cheia que brilha majestosa no céu. Também será uma ótima oportunidade para ficar olhando as Três Marias e matar a saudade da Paulinha.

Já com as passagens compradas, fomos jantar. Desta vez, como já estava bem melhor, pedi o bife de lhama. A carne é bem parecida com a de vaca, só que com uma textura um pouco diferente, sem nervos e sem gordura. Aproveitei para comprar algumas balas de coca. Como já sabia bem como era sofre de soroche, pedi logo a bala extra forte. O sabor não é muito bom, mas ajuda bastante na respiração. Depois de um tempo chupando a bala, por se tratar da extra forte, a gente sente a língua dormente, e essa dormência vai também tomando conta dos lábios. É uma sensação estranha.

Iglesia de San Francisco em La Paz,
De volta ao albergue, arrumei a mochila para sair de manhã rumo à Copacabana. Tomei o primeiro banho quente da viagem e finalmente consegui dormir numa cama!