segunda-feira, 3 de junho de 2013

Caminos Andinos - 4º dia

O ônibus saiu de Santa Cruz com meia hora de atraso. Tudo bem, foi o primeiro atraso que tivemos. Até que o ônibus é confortável e oferece cobertor aos passageiros. Na hora do embarque descobrimos que uma galerinha que havíamos conhecido durante nosso tour no trem também iria neste ônibus. Detalhe sobre o embarque: na Bolívia temos que pagar a taxa de embarque separado da passagem. A taxa é paga diretamente no guichê da administração do terminal e custa 3 Bs.

Já dentro do busão, nos acomodamos na frente do ônibus, enquanto o resto da galera foi para o fundão. A saída de Santa Cruz foi tranquila, apesar do calor infernal que fazia. Para variar fui dormindo. Por volta das 17h o motorista parou na beira da estrada para lancharmos. Ele disse que a próxima parada seria apenas em La Paz. Tomei um suco de chicha, uma espécie de milho rosado e comi uma empanada de queso, muito gostosa por sinal. Depois disso continuamos viagem.

Andamos, andamos, andamos e nada da paisagem mudar. Nada de montanhas, nada de frio e o calor continuava. Por volta das 23h começamos a subir uma Serra. Ela era uma mistura de serra de Ubatuba, por causa das curvas, com a serra de Campos do Jordão, por causa das obras, tudo isso somado ao tráfego de caminhão da Régis Bitencourt. E os pedágios? Tem muito mais pedágios que no Brasil. E na Bolívia é uma zona, são duas cabines para atender todo mundo! Deixei essa bagunça toda de lado e voltei a dormir. Apesar de longa, estava sendo uma viagem tranquila.

Foi tranquila até chegarmos ao Altiplano Boliviano. Por volta das 4h, próximo a cidade de El Alto, fui apresentado ao soroche: o famoso mal da altitude. Meu estômago embrulhou, como se a todo instante eu quisesse vomitar, e realmente queria! Minha respiração ficou difícil e, para ajudar, o frio apertou. Para se ter uma ideia, o vidro do ônibus congelou com ele em movimento. Nunca tinha visto isso antes.

Minha madrugada de soroche foi intercalada entre respirações profundas, para recuperar o fôlego; engolidas secas de cuspe, para evitar o vômito; e encolhidas embaixo do cobertor para esquentar o frio. O problema foi que se eu me cobria, me dava ânsia; se eu engolia cuspe, me faltava ar e se eu respirava fundo, ficava com frio... Maldito soroche, pega a gente de jeito e não tem como escapar. E o pior é que demora para passar.

Teve um momento que eu achei que ia vomitar. Não estava conseguindo segurar. Com muito custo, levantei da minha poltrona, atravessei o ônibus todo, fui ao banheiro e não acreditei, às 5h da manhã tinha um cidadão lá! Nesse instante achei que ia vomitar no corredor mesmo. Felizmente consegui segurar e voltei pro meu lugar. Ficar ali em pé com o ônibus chacoalhando estava pior. Fiquei na minha poltrona me concentrando para não passar mal, sem dormir e contando o tempo para chegar logo em La Paz. Mais ou menos às 6h30 meu primo acordou e quis conversar, não deu outra, voltei a passar mal. Não era o meu dia mesmo! Mas nem tudo foi ruim. Chegamos em La Paz no horário previsto, e já de cara conseguimos táxi, albergue e passeio para Tiwanaku, desse jeito ganhamos um dia para dormirmos na Isla do Sol.

Escolhemos o Hostel Palace Lion para nos hospedarmos, um lugar bem legal. Depois de 4 dias finalmente teríamos banho quente e uma cama para dormir. Deixamos as coisas no quarto e fomos para o passeio. Eu ainda estava passando mal, mas não perderia esse passeio por soroche nenhum.

Às 9h um ônibus micro-ônibus chinês parou em frente ao hostel. Nós e a galera que veio no ônibus ficamos no mesmo hostel e fechamos de fazer o mesmo passeio. Se juntaram a nós mais três inglesas, 1 neozelandesa, duas argentinas e mais duas brasileiras. São 75 km de La Paz até Tiwanaku, que fizemos em duas horas por causa da potência do micro chinês. O sítio arqueológico é separado em quatro partes: dois museus e dois sítios em campo aberto.

Grupo Brazuca indo em direção ao Sítio Arqueológico de Tiwanaku.

Portal do sítio da principal cidade da civilização que viveu por mais tempo no altiplano dos andes.

Galerinha de várias nacionalidades prontos para conhecer Tiwanaku.

Primeiro fomos ao museu onde estão importantes manuscritos. A história é bem interessante, pena que é proibido fotografar. Logo depois fomos para o primeiro sítio em campo aberto, ali pudemos ver o quase nada que sobrou de uma civilização que viveu por quase 3 mil anos naquela região. O território dos tiwanakotas ia desde o sul do Peru, até o sul dos Andes Bolivianos e parte do norte do Chile. Mesmo tendo sido exterminados em 1.200 d.C., eles já dominavam a engenharia, a astronomia e fabricavam ferramentas de ferro fundido. O resto da história não acompanhei porque caminhar no sol fez meu soroche piorar. Mesmo assim andei bastante, vi bastante e fotografei bastante. Quase no final, o Zé, um dos brasileiros que conhecemos no Trem de Santa Cruz, me ofereceu um soroche pill, uma pílula vendida aos turistas que ameniza os efeitos do soroche. Isso me fez melhorar um pouco.

Maquete do maior sítio arqueológico em campo aberto de Tiwanaku.

Monolito de pedra com representação religiosa.

Pedra usada pelos tiwanakotas para fazer ferramentas em ferro fundido.

Portal do Sol.

Mesmo sem a engenharia de encaixe perfeita dos incas, os tiwanakotas foram os que habitaram o altiplano andino por mais tempo.

O perfeito alinhamento entre os muros, o portal do sol e o monolito servia de referência para mostrar aos tiwanakotas o dia exato do solstício de verão.

Após conhecer todas as ruínas, fomos almoçar. Eu já estava melhor, mas não 100%. Entre as opções de refeição eu escolhi sopa de quinoa e legumes cozidos, arroz e truta do lago Titicaca. Outra opção era bife de lhama, mas como ainda estava um pouco mareado, preferi deixar para experimentar em uma outra oportunidade.

Depois do almoço fomos ao sítio em campo aberto de Puma Punku, que é bem legal mas bem menor que o primeiro. E finalizamos o passeio no museu de cerâmica. Muito interessante, tendo como destaque uma múmia muito bem conservada até hoje. Ela também não pode ser fotografada. Fim do passeio. A volta para o albergue foi bem tranquila e eu já estava bem melhor.

Acredita-se que Puma Punku era uma área reservada para a circulação de sacerdotes e da elite tiwanakota.

Além das pedras esculpidas, este local pode ter sido adornado também com metais polidos.
 
Apesar de ser um local elitizado, hoje Puma Punku perde para a imponência de Tiwanaku.

Os símbolos esculpidos nas pedras são de uma precisão ímpar.

A volta também demorou duas horas devido à idade do veículo.
Chegando em La Paz, ficamos no centro para trocar mais dinheiro e aproveitar para comprar algumas coisas. Voltamos ao hostel e fechamos a passagem para Copacabana. Demos sorte pois compramos as duas últimas passagens que saem às 7h30 da porta do hostel. Com essa vinda direta de Santa Cruz para La Paz, e a saída para Copacabana às 7h30, poderemos dormir na Isla del Sol para contemplarmos a lua cheia que brilha majestosa no céu. Também será uma ótima oportunidade para ficar olhando as Três Marias e matar a saudade da Paulinha.

Já com as passagens compradas, fomos jantar. Desta vez, como já estava bem melhor, pedi o bife de lhama. A carne é bem parecida com a de vaca, só que com uma textura um pouco diferente, sem nervos e sem gordura. Aproveitei para comprar algumas balas de coca. Como já sabia bem como era sofre de soroche, pedi logo a bala extra forte. O sabor não é muito bom, mas ajuda bastante na respiração. Depois de um tempo chupando a bala, por se tratar da extra forte, a gente sente a língua dormente, e essa dormência vai também tomando conta dos lábios. É uma sensação estranha.

Iglesia de San Francisco em La Paz,
De volta ao albergue, arrumei a mochila para sair de manhã rumo à Copacabana. Tomei o primeiro banho quente da viagem e finalmente consegui dormir numa cama!

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