Saímos do hostel por volta das 5h15.
Quem foi nos buscar foi Fred Zapata, que também será nosso guia
durante a tão esperada e sonhada Trilha Inca. Passamos nos outros
hotéis para juntar a galera e formarmos o grupo: uma família de
quatro australianos, uma família de quatro canadenses de Quebec (por
isso falam francês), um casal belga e eu e meu primo brasileiros.
Fomos direto para Ollantaytambo para
tomarmos café da manhã. Infelizmente estava chuviscando, mas isso
não iria mudar os planos ou ser motivo de desânimo. Após o café,
ainda sob chuva, fomos rumo ao km 82, onde começa a trilha. Chegamos
ao local e tudo já estava arrumado. Recebemos nossos isolantes
térmicos, os prendemos nas mochilas e estávamos prontos para
começar a epopeia. A chuvinha havida dado uma trégua.
Iniciamos a caminhada passando pelo
posto de controle da trilha, onde tivemos que apresentar os
passaportes e os bilhetes de entrada. Após isso, foi feita a
clássica foto do grupo em frente a placa de início da trilha.
Seguimos margeando o Rio Urubamba. Praticamente tudo plano.
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A clássica! |
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Atravessar essa ponte significou iniciar a realização de um sonho. |
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Primeira parte tranquila seguindo o rio... |
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... e contornando vales. |
Começamos a caminhar por volta das 8h
e mais ou menos às 13h paramos para almoçar. É muito louco, porque
a equipe de apoio sai correndo na frente, carregando fogão, gás,
barraca, banco, comida; montam tudo, fazem comida, nos esperam
almoçar, lavam, guardam tudo e depois saem correndo de novo. O
almoço superou minhas expectativas! Estava muito melhor do que muito
restaurante que comemos pelo caminho.
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Local do nosso restaurante a céu aberto. |
Nem tivemos tempo de descansar depois
do almoço e já voltamos a caminhar. A segunda parte da caminhada
foi de subida praticamente por todo o percurso. No começo foi
tranquilo, com subidas e retas, mas como estávamos a mais de 3 mil
metros de altitude, a coisa estava ficando complicada. Para ajudar,
voltou a chuviscar. Nessa altura do campeonato tudo era motivo para
parar: chuva, tomar água, tirar foto e até para descansar mesmo.
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Ruínas estão espalhadas por todo o trajeto da Trilha Inca. |
Chegamos no segundo posto de controle,
que está a 3.300 metros de altitude e continuamos subindo. Nosso
acampamento ainda estava a mais uma hora de caminhada. Essa foi uma
hora terrível, foi só de subida. Não tinha nem uma parte plana
para dar um refresco. Por diversas vezes pensei que não aguentaria,
mas em nenhum momento pensei em desistir! Sempre ficava pensando na
equipe de apoio que estava carregando um peso três vezes maior que o
meu, nas crianças das famílias que estavam firmes e fortes e
principalmente que isso era um sonho que estava sendo realizado!
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Mapa indicando que o local de acampamento ainda estava longe. |
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Achei sensacional os canadenses trazerem suas crianças para vivenciar essa experiência única. |
Cheguei no acampamento por volta das
18h. Depois de mim só chegou o senhor australiano que estava
passando mal. Eu estava sem blusa e com a camiseta toda molhada de
suor. Já estava começando a fazer frio, mas mesmo assim continuei
sem blusa, esperando o corpo secar. De nada adiantaria colocar uma
camiseta limpa e o corpo ainda molhado de suor. Depois que meu corpo
secou, tirei a camiseta, sequei o suor da cabeça com ela e coloquei
a segunda pele. Assim o frio começou a se amenizar. Os carregadores
nos mostraram qual seria nossa barraca e na porta duas bacias com
água quente para lavar o rosto. Lavar o rosto que nada!!! Tratei de
tirar a bota e as meias e enfiar os pés na água! Depois de uma
caminhada tão puxada, essa foi uma sensação incrível.
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Finalmente o acampamento, sinal de que a primeira etapa foi completada! |
Arrumei minhas coisas na barraca, tirei
um cochilo e já chamaram para um café, que o Fred chamou de happy
hour. Foi muito legal! O happy hour parecia uma babilônia. Quem ia
gostar era a Paulinha. Tinha uma galera falando francês, outra
falando inglês, mais outra falando espanhol. Os três idiomas que
ela fala. Seria um laboratório e tanto! O happy hour foi regado a
pipoca e chá de coca.
Voltamos para as barracas para
descansar mais um pouco para mais tarde jantarmos. Foi o melhor
jantar de todos. Comemos lomo saltado. Uma espécie de cubinhos de
carne de vaca com cebola, pimentão, vagem e um molho sensacional,
acompanhado de batatas fritas e arroz com legumes. Após jantarmos,
Fred nos falou sobre o dia seguinte. Já sabíamos que seria o dia
mais difícil, sairemos do acampamento a 3.300 metros de altitude e
em quatro horas e 5 km subiremos para 4.200 metros de altitude. Muito
punk, mas vamos que vamos!!!