segunda-feira, 11 de março de 2013

Diário de um branco na Aldeia Boa Vista - 14º dia

Acordei às 7h30 depois de uma boa noite de sono. Depois de uma não, depois da primeira boa noite de sono! Foi a primeira vez que eu dormi bem aqui, até tive a sensação de estar deitado na cama. Só acordei com o gato miando. Segundo os índios, ele miava por causa das estripulias que o saci estava fazendo na Casa de Reza; o saci veio bagunçar porque eu assobiei de noite.

Depois do café fomos cortar lenha. No caminho, Tupã me perguntou se eu gostava de palmito. Respondi que sim, então paramos no caminho para cortar palmito para fazer salada na hora do almoço. Também encontramos uma árvore queimada pelo relâmpago. Tupã disse que sabe que foi queimada pelo relâmpago porque está seca por inteiro, o que, normalmente, demoraria semanas.

Após muito caminhar pela mata em busca de lenha, o trabalho se encerra com o corte em feixes pequenos, já pronto para a utilização.


Mimbí, jovem índio guarani que foi um dos meus guias durante a estadia na aldeia.
  
Na hora do almoço, uma cena inusitada: Dona Santa ainda preserva o costume de comer com as mãos. Não consegui fotografar, pois ela é tímida e quando vê a câmera se esconde. No período da tarde, fiquei batendo papo com Tupã. Ele me contou sobre os casamentos guaranis. Os casamentos podem acontecer a partir dos 14 anos. Como acontece com os brancos, os guaranis se casam com as pessoas que eles gostam e não nos chamados casamentos arranjados.

A separação também é permitida, desde que o casamento não tenha dado certo. Em caso de traição, quem traiu é punido, tendo que raspar a cabeça e também devendo levar algumas chicotadas na frente de toda a aldeia. Os homens levam sete chicotadas e as mulheres cinco. Isso é feito pelo xondáro. De 20 anos para cá, isso só aconteceu duas vezes na Boa Vista.

Já estou nos meus últimos dias dessa experiência na aldeia. As novidades estão diminuindo, dando espaço para a rotina. Meu trabalho já está praticamente completo, e sinto que minha forma de enxergar as coisas mudou bastante, e felizmente para melhor.

Por falar em rotina, a dos homens é com o trabalho pesado, como roçar o quintal...

... a das mulheres é cuidar das crianças e fazer artesanato...


... das crianças é correr por aí e ser criança...
... e a dos mais velhos é só ver o tempo passar.




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