segunda-feira, 4 de março de 2013

Diário de um branco na Aldeia Boa Vista - 13º dia


Acordei às 7h30. Organizei minhas coisas, lavei o rosto, escovei os dentes. Tomei café. Depois começaram os preparativos para o dia de pescaria. Cortar taquara para fazer vara, separar os anzóis, a linha. Ah! Muito importante, pegar os ingredientes para fazer tipá para comermos lá no Rio Puruba, nosso local de pescaria. Tudo preparado. Começamos nossa caminhada. Eu estava vestido com calça e blusa. Em meio à mata atlântica, o calor é grande, mas optei pela calça e pela blusa por causa dos borrachudos (bariguis).

Foram mais de duas horas de caminhada na mata quente e úmida, eu suava como nunca havia suado antes. E no sobe e desce de morros, só o que se ouvia, além dos passos no mato seco, era o canto das arapongas. No meio do caminho, encontramos um tatu escondido em sua toca. Tentamos capturá-lo em vão, sua toca era muito profunda e não conseguimos alcançá-lo. Continuamos a nossa jornada.

Por volta das 11h30, depois dessa suada caminhada, subindo e descendo morros, chegamos ao Rio Puruba. O lugar é bem bonito, mas está longe de ser o paraíso, pelo menos no meu conceito. Arrumamos as varas e fomos pescar. Eu peguei o extraordinário número de cinco lambaris. Em compensação, foto eu tirei um rolo de filme, ou seja, 36 poses. Ficamos lá até às 15h, quando decidimos voltar.

Quem passa pelo Rio Puruba, às margens da Rodovia Rio-Santos, nem imagina que esse rio é palco das pescarias dos guaranis.


Bagres e lambaris são os peixes mais encontrados nas águas do Puruba.
Werá preparando o tipá que será servido como refeição neste dia de pesca.

A volta foi penosa. O morro se parece mais um barranco. Hoje entendo o que meu amigo Gilberto quis dizes com o termo “escalaminhada”. No percurso, tivemos que voltar duas vezes para buscar um dos cachorros que havia se perdido. Depois de caminhar tantas horas, eu sentia que alguém cheirava mal. Me perguntei: “Será que é o Tupã, que está a minha frente? Ou será o Mimbí, que está vindo logo atrás? Credo, acho que sou eu o fedorento!!!”. No fim, cheguei à conclusão que todos nós cheirávamos mal.

Quase chegando à aldeia, novamente o cachorro se perdeu. Decidimos não ir atrás dele, afinal estávamos perto da aldeia e ele com certeza encontraria o caminho. O que acabou acontecendo. Já de volta à aldeia, na Casa de Reza, estava acontecendo uma reunião da comunidade para resolver a situação de um casal que havia se desentendido. Cada um dos pescadores foi tomar banho, menos Mimbí, que foi limpar os peixes.

Mimbí preparando os peixes para o jantar.

 À noite a recompensa: arroz, feijão e peixe frito. Depois de tanto esforço, o lambari ficou com sabor de salmão. Depois de jantar ao pé da fogueira, ficamos conversando, contando histórias e cantando, até mais ou menos 21h, quando começou a chover. Fomos dormir.

Japytoúdio! (Boa Noite em guarani)

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