segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O Sol e a Lua – Cuaray e Diaty

Para os Guaranis Mbyá tudo que acontece e tudo que surge na natureza tem ligação direta com Ñanderú, com os espíritos protetores e com os próprios índios. E dessa forma, eles explicam como surgiram muitos fenômenos que presenciamos todos os dias e noites...

Quando Cuaray (Sol) estava na barriga de sua mãe, conforme ela andava, ele ia pedindo: “Mãe, pega aquela flor pra mim”. E a mãe pegava. Por todo o caminho ele pedia. Até que havia algumas flores cheias de abelhas, e Cuaray pediu “Mãe, pega aquela flor pra mim”. A mãe pegou e levou várias picadas das abelhas. Então a mãe deu um tapa na barriga e disse: “Não vou mais te ouvir”.

Continuando o caminho, a estrada se dividiu em duas. A mãe então perguntou:
- Para onde tenho que ir filho?

E Cuaray respondeu:
- Não falo mais!

Sozinha, a mãe decidiu ir pela estrada do lado esquerdo. Depois de andar algum tempo pela estrada, a mãe foi atacada por uma onça e morreu. Na verdade, a onça era Anhã, o espírito protetor dos animais, caçando comida.

Anhã se reuniu com os outros para comer a mãe, quando descobriu Cuaray dentro da barriga dela. Um deles disse:
- Eu não vou comer ele não, quero só a mãe.
- Eu também, responde outro.
- Eu também.
Até que um Anhã teve uma ideia:
- Por que a gente não cria ele? Ele pode caçar pra gente!
- Boa ideia, responderam os outros.

Ilustração: Roberto Torrubia

Os Anhãs foram treinando Cuaray conforme ele crescia. Ele foi se tornando um grande caçador. Os Anhãs nunca contaram para ele que haviam matado a sua mãe, só falavam que tinha sido uma onça.

Um dia Cuaray questionou:
- Por que eu sou tão diferente de vocês?

Um dos Anhãs respondeu:
- É porque sua mãe veio de outro mundo e se casou com nosso filho, seu pai.

Ñanderú, deus pai de todos os índios, cansado de ver essa enganação toda, resolveu então mandar para terra o irmão de Cuaray, Diaty, para contar-lhe a verdade.

Ilustração: Guto Oliveira

Cuaray, muito bravo com os Anhãs, resolveu vingar a morte de sua mãe:
- Diaty, amanhã os Anhãs vão pescar, a gente mergulha e fica tirando a isca deles, mas não pode colocar na boca, tá? Explicou o irmão.

Diaty concordou e foram os dois para o rio. No entanto, em determinado momento, Diaty não resistiu e colocou o anzol na boca. Os Anhãs, felizes da vida, levaram Diaty e o comeram.
- Vocês podem deixar os ossos pra eu brincar? Só os ossos por favor...” pediu Cuaray.

Os Anhãs atenderam o pedido de Cuaray, que levou os ossos para Ñanderú e pediu que ele fizesse outro. Depois disso, Cuaray fugiu com o irmão e nunca mais voltou para os Anhãs.


Diaty é a lua, e sua morte é lembrada todo mês, na lua nova. A falta de lua no céu representa a morte de Diaty pelos Anhãs.

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