segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Diário de um branco na Aldeia Boa Vista - 11º dia

Está cada vez mais difícil dormir na rede. Minhas costas estão ficando um caco. Agora de manhã eu estava pensando, estar aqui não foi só conhecer a cultura guarani, mas também me conhecer. Não é fácil deixar todo o conforto que se tem em casa e vir para um lugar que você mal conhece, com um povo que fala uma língua que você não entende e que faz algumas coisas que você não consegue acreditar.


Lembro-me de quando eu abominava pegar um prato ou um talher engordurado. A primeira vez que eu almocei aqui foi complicada. Peguei aquele prato que mal parava na mão de tanta gordura, o talher então, grudou nos meus dedos. A comida era temperada apenas com sal. Para quem está acostumado com tudo bem temperado com condimentos, alho, cebola, etc é uma experiência bem diferente.  Porém, levado pela cortesia e simplicidade dos índios, encarei tudo isso numa boa, com um baita sorriso no rosto. Depois de alguns dias, o tempero ficou perfeito, os talheres engordurados nem eram mais percebidos. É... o ser humano é, realmente, adaptável a tudo!!!

No período da manhã, Dona Irma (Pará) veio até a Casa de Reza para pegar seu artesanato para vender. Ela juntou tudo dentro de um cesto e foi em direção à cidade. Neste período não fiz mais nada, aproveitei para escrever e organizar minhas coisas. Depois do almoço, fui até a casa de Seu Zé (Embareté), o segundo morador mais velho e o que está aqui na Boa Vista há mais tempo. Junto com ele estavam Seu Orlando (Kuaray Axá) e Dona Valentina (Pará Poty). Os três, Dona Natália e Dona Irma são os mais velhos da aldeia. A título de curiosidade, o local onde está sendo feita a plantação de milho, já foi a casa de Seu Zé. Lá, ele mantinha um belo pomar e plantações de cana, banana, milho e mandioca.

Dona Irma, cujo nome em guarani é Pará, levando seu artesanato para a venda na beira da estrada.

Dona Vicentina fumando seu petyguá enquanto batia papo com os outros índios.

Os índios mais velhos têm o hábito de ficar horas em volta da fogueira batendo papo.

Depois de algumas fotos na casa de Seu Zé, subi para o Posto de Saúde para ligar para casa dando notícias. Voltando, encontrei Dona Irma descendo para a aldeia com um saco grande de pão. Ela disse que ganha pão todos os dias da padaria na Rio-Santos. Chegando na aldeia, ela dividiu os pães com as famílias que têm criança. Não a fotografei carregando os pães porque quem estava carregando os pães era eu.

Na hora do café fiquei conversando com alguns jovens. Eles estavam contando histórias de Pytcham, um espírito bastante arteiro que adora pregar peças nos guaranis. As histórias de Pytcham são muito parecidas com as de Pedro Malasartes.

Hoje, a cerimônia de reza estava um pouco vazia. Estavam presentes Tiró, Maurício, Tupã, eu e mais quatro jovens, fora Mimbí e Reginaldo, que estavam dormindo.

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