segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Lembranças Analógicas

Dirijo-me à velha escrivaninha que me foi dada pela minha avó. Ao abri-la me deparo com várias coisas, que por muitos podem ser julgadas como porcarias, mas não para mim, eu as considero lembranças. Corro rapidamente os olhos e encontro. Lá está, uma velha caixa de papelão. Dentro dela muitas boas histórias, muitas boas lembranças, muitos bons amigos.


Ao pegá-la, sutilmente surge em meu rosto um sorriso do tamanho de minha adolescência, o corpo todo se arrepia e uma felicidade indescritível toma conta de mim. O que tem dentro da caixa? Para explicar preciso voltar alguns anos no tempo, no início da década de 1990.


Entre 1993 e 1999 fui membro atuante no Movimento Escoteiro. Veja bem, eu não disse que fui escoteiro, porque uma vez escoteiro sempre escoteiro! Posso afirmar com toda convicção que esse período na minha adolescência foi o responsável por uma grande parte do que eu sou hoje, das melhores lembranças que tenho desse tempo e de grandes amigos que fiz para a vida toda. A propósito, são os amigos responsáveis pela caixa.

Acampamento em Bananal/SP - Agachado, nosso grande amigo que já partiu para o grande acampamento do céu: Roberto Nagib.

Com algumas amigas holandesas no 19º Jamboree Mundial do Chile, em 1999.

Caminhada da Tropa Sênior - à esquerda outro grande amigo que também partiu para o grande acampamento: Rodrigo Okido.
 
Aqui, na caminhada de Campos do Jordão à Piquete/SP, quando encontramos com a Tropa Sênior do extinto 12º G.E. Puris.


Nesse período, apesar da internet já existir, nos vários acampamentos que participávamos com outros grupos escoteiros, não trocávamos e-mails ou adicionávamos no Orkut ou Facebook, trocávamos endereços! Daqueles com nome de rua, bairro e CEP, que hoje só lembramos quando compramos algo... pela internet! Foram vários amigos. Dezenas deles. Todos ali, dentro da caixa, materializados em forma de carta.

Não são como os e-mails, que são todos iguais ou parecidos. Cartas são mais pessoais, trazem consigo a personalidade, a característica de cada um. São letras bonitas, garranchos, lisas, amassadas, desenhadas, rabiscadas, dobradas ou feitas por origami. Cada carta é como se fosse um pedacinho do seu remetente.  Na minha caixa, velha e com cheiro forte de bolor, amigos de várias cidades e estados.

Ao ler as cartas, me deparei com amigos com os quais ainda tenho contato, porém alguns eu me lembrei das histórias, do acampamento em que nos conhecemos, mas não consegui lembrar o rosto. Engraçado como alguns amigos vão saindo da nossa vida enquanto outros continuam tão presentes!



Foi nesse momento, com as cartas nas mãos, as lembranças de adolescência escoteira à flor da pele e uma saudade no peito que comecei a me questionar. Se fosse um e-mail, será que eu o estaria lendo 15 anos depois de recebido? Será que se a pessoa que recebeu uma carta minha teria o mesmo sentimento que tive quando reli as que recebi? Será que essas pessoas ainda moram no mesmo lugar? Qual seria a reação delas se recebessem uma carta minha hoje? Qual seria a minha reação se recebesse uma carta delas?


Não sei as respostas para essas perguntas. Não sei nem se um dia terei as respostas, ma sei que reler essas cartas foi como reviver vários acampamentos que marcaram minha adolescência, foi me sentir tão empolgado quanto ficava há 15, 16 anos atrás quando me preparava para um acampamento!

Elo Nacional  realizado em Campos do Jordão no ano de 1997.

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