Essa noite foi um pouco mais complicada
do que as outras. Chegou um momento da noite que já não havia mais
posição confortável para dormir, e para ajudar o frio apertou. Desta
vez não passei frio nas pernas, pois coloquei as meias por cima da
calça e no meio da noite ainda vesti o anorak.
Como na manhã passada, fomos acordados
com mate de coca bem quentinho, oferecido pelos carregadores. Na hora
que eles abriram a porta da barraca, deu para ver que estava
congelada! Saímos de Campos do Jordão sem ver geada nesse inverno
para vir ver na Trilha Inca.
Mesmo com o frio de congelar a barraca, o calor da realização dos sonhos nos fazia acordar animados. |
Por volta das 7h tomamos café e às 8h
começamos a caminhar. A sessão subida parece que acabou, pois hoje
a caminhada é praticamente toda de descida. Isso é um alívio para
a respiração, mas um tormento para os joelhos. O caminho é lindo,
e quase 100% dele ainda é o original feito pelos incas. Da trilha da
para ver três picos nevados e o vale do Rio Urubamba, e ao centro
tem uma montanha com uma bandeira do Peru hasteada. É o Pico Machu
Picchu. Atrás dele está a cidade sagrada dos incas que sonho
conhecer há anos.
Na descida, como vou mais rápido para
evitar dores nos joelhos, caminhei grande parte sozinho. Foi uma boa
oportunidade para pensar em várias coisas. Pensei em como sou um
cara de sorte, pois trabalho com o que gosto, tenho um bom emprego,
amigos incríveis, uma família fantástica e ainda por cima a
Paulinha como companheira. Tudo isso é sensacional! Tudo que está
acontecendo está sendo tão mágico que por várias vezes, enquanto
caminhava na companhia das minhas reflexões, borboletas de vários
tamanhos e cores dançavam sutilmente uma dança orquestrada pelo som
do rio que corria ao longe no vale. Antes de chegar ao acampamento
ainda visitamos um sítio arqueológico que tinha um visual incrível,
como em todo o caminho.
O caminho original pôde ser mantido graças ao trabalho de engenharia preciso realizado pelos incas. |
Machu Picchu estava logo ali, atrás daquela montanha. |
A cada curva que fazíamos... |
... mais um pouco de história dos incas nos era apresentada. |
Borboletas, paisagens e pensamentos bons foram meus grandes companheiros de Trilha Inca. |
Chegamos ao acampamento e já estava
tudo montado, inclusive as barracas. Guardamos as coisas e ficamos
descansando na sombra, já que estava fazendo muito calor. Almoçamos
e voltamos a descansar para mais tarde visitar o último sítio
arqueológico antes de Machu Picchu. Por volta das 15h conhecemos o
templo que acredita-se que seja dedicado ao Arco Íris. A construção
é sensacional.
No sítio, depois de ter nos explicado
a história do local, Fred nos falou sobre a despedida dos
carregadores e também falou sobre a possibilidade do grupo dar uma
caixinha para eles. Logo após disse que estávamos liberados para
explorar o sítio e que ele iria descansar. Eu tirei algumas fotos e
voltei para o acampamento. Na barraca, tomei meu banho de lencinhos
umedecidos e aproveitei para tirar um cochilo antes do café.
Estávamos dormindo quando fomos
chamados para o jantar. Como todas as vezes estava muito bom, mas
desta vez o cozinheiro Alex se superou! Ele fez um bolo confeitado
sem nem ter forno e o bolo ficou uma delícia! Logo depois nos
reunimos numa parte acimentada atrás da tenda restaurante. Ficamos
em círculo e o guia Fred agradeceu a companhia e a toda equipe.
Então ele passou a palavra ao Gregory, o belga que representou os
caminhantes. Ele agradeceu a todos os carregadores e disse que sem
eles nosso passeio não seria possível, e realmente não seria. Eu
nunca conseguiria fazer essa trilha carregando todo aquele
equipamento em quatro dias. Eu precisaria de pelo menos uns dez dias!
Ele disse também que os carregadores serviam de inspiração, o que
realmente acontecia, eles me inspiraram por várias vezes. E depois
agradeceu ao cozinheiro Alex, que surpreendeu a todos com uma cozinha
digna dos melhores restaurantes em plena Trilha Inca.
Após as palavras do belga, tos
cumprimentaram os carregadores, um por um. Eu decidi dar um abraço em cada um deles. Eles ficaram meio sem graça e alguns nem
completavam o abraço. Deve ser porque normalmente ninguém faz isso
com eles. Depois disso fomos deitar porque levantaremos às 3h30 para
sermos os primeiros a chegar em Machu Picchu. Haja ansiedade... Será
que vou conseguir dormir??? Que venha a realização de um sonho!!!
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