* * *
O ônibus saiu pontualmente às 20h.
Ele não era o mais confortável que andamos, mas também não era o
pior. O grande problema foi que o motorista era fumante e ficava o o
tempo todo com a janela aberta. Com isso o vento vinha direto na
minha perna. Por causa do frio não consegui dormir. Dessa vez vi
quase todas as oito horas de viagem passarem.
Chegamos ao Terminal de Buses de Sucre
às 3h30. Estava um friozinho que incomodava. O motorista do ônibus
nos disse que o terminal só abriria às 4h30 e os guichês às 7h30.
Ficamos ali, na beira da rua, no meio do frio, praguejando e
resmungando. Até que essa hora passou bem rápido, acho que foi para
não ouvir nossa reclamação.
Entramos no terminal, que estava um
pouco menos frio, mas tinha uma corrente de vento que matava. Não
aguentei ficar ali parado, então resolvi andar pelos guichês para
ver se tinha os horários de saída para Santa Cruz de la Sierra.
Para a minha infelicidade tinha, e o primeiro ônibus para lá era às
16h30. Seriam apenas doze horas de espera. Desânimo total!!!
Ficamos fazendo as contas de quanto
tempo ainda tínhamos de viagem até chegar em casa. Isso foi
extremamente desanimador. Faltavam ainda 49 horas de estrada até
chegar em São Paulo. Esperamos até umas 8h e decidimos ir procurar
a agência da Boliviana de Aviación. Empresa essa que eu já havia
pesquisado o preço e a passagem estava em torno de US$ 250,00. Na
rodoviária mesmo pegamos um táxi para a agência. Chegando lá
tivemos que esperar um pouco até abrir. Quem nos atendeu foi um
rapaz que disse que para o dia seguinte só teria o pacote de ida e
volta, e esse pacote sairia por US$ 526,00. Do jeito que eu estava
com vontade de ir embora, já estava aceitando, mas decidimos
procurar em algumas agências de turismo próximas. Para o nosso
azar, só encontramos o pacote da Boliviana.
Decidimos então comprar o pacote
mesmo, só que diretamente na BOA (Boliviana de Aviación), e tentar
negociar a passagem SPxSanta Cruz por uma SucrexSanta Cruz. De volta
na agência da BOA, quem nos atendeu foi uma mulher, que disse que
para o dia seguinte havia passagem só de ida por US$ 217,00.
Aceitamos as passagens na hora! Nesse momento olhei para o cara que
havia nos atendido e ele não sabia onde enfiar a cara. Depois de
alguns perrengues, finalmente alguma coisa deu certo, e bem certo.
Nosso voo estava confirmado: sexta-feira às 9h30 com saída de Santa
Cruz de la Sierra. Agora a corrida é para comprar passagem de ônibus
para lá, já que a passagem é concorrida e a viagem dura 15 horas.
Conseguimos comprar os dois últimos
lugares do primeiro ônibus, que sai às 16h e chega em Santa Cruz às
7h, nos deixando com tempo suficiente para voarmos para São Paulo às
9h30. Tudo certo, passagens compradas, fomos comer alguma coisa e dar
uma volta nas redondezas da rodoviária para matar o tempo. Bem ao
lado da rodoviária comemos uma hamburguesa, que foi a melhor da
viagem. Tinha um tempero apimentado. Depois ficamos andando e vendo
os carros antigos que passavam ou que estavam estacionados, até que
encontramos uma pracinha e ficamos à toa por um tempo. Quando o sono
estava começando a aparecer, decidimos ir a uma lan house. É sempre
bom matar a saudade das pessoas que a gente gosta! Após o bate papo
pela internet foi a vez de ir comer de novo. Mandei ver num prato de
salchipapas com arroz e coca cola. Como já estava quase na hora do
ônibus, voltamos para a rodoviária.
Salchipapas é uma gordice muito boa!!! |
Estávamos no Portão 1, Carril 3 como
marcado na passagem, quando questionei meu primo sobre a bagagem,
pois vi outras empresas colocando a bagagem no ônibus por outros
lugares. Pedi para ele subir no guichê para perguntar se não
tínhamos que despachar por lá para etiquetar as mochilas. Meu primo
me respondeu que não precisava ter neura. O tempo foi passando e
nada do ônibus aparecer. Não podíamos perder esse ônibus senão
correríamos o risco de perder o voo para São Paulo. Foi exatamente
nesse momento que apareceu um senhor dizendo que a fiscalização
havia fechado a Companhia Bolívar e que o ônibus não sairia.
Inacreditável! Em poucos dias esse foi o nosso segundo ônibus
cancelado na Bolívia.
Estacionamento do Terminal de Buses de Sucre, ao fundo a Companhia Bolívar, que nos teve suas portas fechadas pela ficalização. |
Nem pensei em nada, só peguei as
minhas coisas e saí correndo para o guichê para pegar o dinheiro de
volta e já tentar comprar outra passagem. Entrei na fila para pegar
o dinheiro de volta e já fui vendo quem estava vendendo passagem
para o ônibus das 16h30 no guichê da frente. Saí da fila do
reembolso e entrei na fila da passagem, já que estava uma verdadeira
guerra de foice por um lugar. No grito consegui os dois últimos
lugares nesse ônibus e enquanto a mulher preenchia as passagens, fui
pegar o reembolso.
Eram 16h20 e eu já estava com as
passagens na mão. No ônibus, deixei meu primo colocando as mochilas
no bagageiro e fui sentar em nossos lugares. Já acomodados, ficamos
esperando que ele saísse. Após vinte minutos de atraso, finalmente
partimos rumo a Santa Cruz de la Sierra. Pelas minhas contas, mesmo
com o atraso teríamos tempo hábil para chegarmos ao aeroporto e
fazermos check-in. Isso se não acontecesse mais nada, né?
Continuando a contabilidade, esse era o quinto dia sem banho.
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