segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Caminos Andinos - 11º dia

Essa noite foi um pouco mais complicada do que as outras. Chegou um momento da noite que já não havia mais posição confortável para dormir, e para ajudar o frio apertou. Desta vez não passei frio nas pernas, pois coloquei as meias por cima da calça e no meio da noite ainda vesti o anorak.

Como na manhã passada, fomos acordados com mate de coca bem quentinho, oferecido pelos carregadores. Na hora que eles abriram a porta da barraca, deu para ver que estava congelada! Saímos de Campos do Jordão sem ver geada nesse inverno para vir ver na Trilha Inca.

Mesmo com o frio de congelar a barraca, o calor da realização dos sonhos nos fazia acordar animados.

Por volta das 7h tomamos café e às 8h começamos a caminhar. A sessão subida parece que acabou, pois hoje a caminhada é praticamente toda de descida. Isso é um alívio para a respiração, mas um tormento para os joelhos. O caminho é lindo, e quase 100% dele ainda é o original feito pelos incas. Da trilha da para ver três picos nevados e o vale do Rio Urubamba, e ao centro tem uma montanha com uma bandeira do Peru hasteada. É o Pico Machu Picchu. Atrás dele está a cidade sagrada dos incas que sonho conhecer há anos.

Na descida, como vou mais rápido para evitar dores nos joelhos, caminhei grande parte sozinho. Foi uma boa oportunidade para pensar em várias coisas. Pensei em como sou um cara de sorte, pois trabalho com o que gosto, tenho um bom emprego, amigos incríveis, uma família fantástica e ainda por cima a Paulinha como companheira. Tudo isso é sensacional! Tudo que está acontecendo está sendo tão mágico que por várias vezes, enquanto caminhava na companhia das minhas reflexões, borboletas de vários tamanhos e cores dançavam sutilmente uma dança orquestrada pelo som do rio que corria ao longe no vale. Antes de chegar ao acampamento ainda visitamos um sítio arqueológico que tinha um visual incrível, como em todo o caminho.

O caminho original pôde ser mantido graças ao trabalho de engenharia preciso realizado pelos incas.

Machu Picchu estava logo ali, atrás daquela montanha.

A cada curva que fazíamos...
... mais um pouco de história dos incas nos era apresentada.

Borboletas, paisagens e pensamentos bons foram meus grandes companheiros de Trilha Inca.

Chegamos ao acampamento e já estava tudo montado, inclusive as barracas. Guardamos as coisas e ficamos descansando na sombra, já que estava fazendo muito calor. Almoçamos e voltamos a descansar para mais tarde visitar o último sítio arqueológico antes de Machu Picchu. Por volta das 15h conhecemos o templo que acredita-se que seja dedicado ao Arco Íris. A construção é sensacional.






No sítio, depois de ter nos explicado a história do local, Fred nos falou sobre a despedida dos carregadores e também falou sobre a possibilidade do grupo dar uma caixinha para eles. Logo após disse que estávamos liberados para explorar o sítio e que ele iria descansar. Eu tirei algumas fotos e voltei para o acampamento. Na barraca, tomei meu banho de lencinhos umedecidos e aproveitei para tirar um cochilo antes do café.


Durante o café a galera resolveu falar sobre a caixinha dos carregadores. Os belgas queriam que cada um desse S/. 85. Esse valor é maior do que pagamos pela estadia de todos os dias em Cusco. Falamos que poderíamos contribuir com S/. 20. Foi nesse momento que o povo, principalmente as madames, torceu o nariz. Começaram a conversar em francês e em inglês, em um tom mais baixo pois sabiam que entendíamos um pouco, e olhar pra gente com cara de desdenho. Ficamos putos com a situação e levantamos da mesa e decidimos que por isso não ajudaríamos em porra nenhuma, afinal, se eles querem demonstrar que estão cheios da grana, que demonstrem! A entrega ficou para ser feita na cerimônia depois do jantar.

Estávamos dormindo quando fomos chamados para o jantar. Como todas as vezes estava muito bom, mas desta vez o cozinheiro Alex se superou! Ele fez um bolo confeitado sem nem ter forno e o bolo ficou uma delícia! Logo depois nos reunimos numa parte acimentada atrás da tenda restaurante. Ficamos em círculo e o guia Fred agradeceu a companhia e a toda equipe. Então ele passou a palavra ao Gregory, o belga que representou os caminhantes. Ele agradeceu a todos os carregadores e disse que sem eles nosso passeio não seria possível, e realmente não seria. Eu nunca conseguiria fazer essa trilha carregando todo aquele equipamento em quatro dias. Eu precisaria de pelo menos uns dez dias! Ele disse também que os carregadores serviam de inspiração, o que realmente acontecia, eles me inspiraram por várias vezes. E depois agradeceu ao cozinheiro Alex, que surpreendeu a todos com uma cozinha digna dos melhores restaurantes em plena Trilha Inca.


Após as palavras do belga, tos cumprimentaram os carregadores, um por um. Eu decidi dar um abraço em cada um deles. Eles ficaram meio sem graça e alguns nem completavam o abraço. Deve ser porque normalmente ninguém faz isso com eles. Depois disso fomos deitar porque levantaremos às 3h30 para sermos os primeiros a chegar em Machu Picchu. Haja ansiedade... Será que vou conseguir dormir??? Que venha a realização de um sonho!!!

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