segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Diário de um branco na Aldeia Boa Vista - Acertos finais


Fui à Aldeia para acertar os últimos detalhes da minha estadia com os índios. Cheguei lá por volta das 9h. Nesse dia, meu primeiro contato foi com Marcos, um jovem de aproximadamente 17 anos que estava trabalhando na construção das novas ocas de alvenaria.

Ele trabalha como ajudante de pedreiro, carregando, na maior parte do tempo, tijolos no carrinho de mão pelos 700 metros de trilha, que vão da rua até a aldeia. O jovem aceitou esse emprego, pois estava passando necessidades no Paraná, de onde veio. Marcos é ubatubense, foi tentar a vida em outro estado, mas não deu certo.

Antes de descer até a aldeia, conversei com Dona Íris, a enfermeira da tekoá (aldeia no idioma guarani). Ela, de forma muito gentil, me ensinou o caminho até a casa do cacique, Sr. Werá Altino dos Santos.
Comecei a caminhada entrando na trilha que atravessa o parquinho ao lado da escola. É uma trilha estreita e sinuosa em mata fechada. No começo é uma trilha como outra qualquer, mas conforme vou avançando, os raios de sol da manhã vão penetrando a mata atlântica, iluminando uma leve neblina de frio que permeia as árvores. Uma cena singular!


A trilha de aproximadamente 700 metros é o único acesso a Aldeia Boa Vista

Quase no final da trilha já é possível ver algumas casinhas de pau-a-pique, que foram construídas para substituir as ocas de sapê. Tudo sempre em muita harmonia com o meio ambiente. A trilha chega à margem do rio e segue em frente. Eu saio da trilha e atravesso o rio por uma ponte. Do alto da ponte dá para perceber a transparência da água.



Ponte que leva ao campinho de futebol


Depois da ponte está o campinho de futebol da aldeia, à direita estão sendo construídas as ocas de alvenaria, ao fundo a casa do cacique. Em frente a casa do chefe da aldeia estavam Sr. Altino e Sr. Maurício. Eles trabalhavam cortando o chão para alguma coisa. Conversamos sobre minha estadia, o cacique estava meio arredio. No final, acertamos que eu levaria uma cesta básica para ajudar na alimentação, e que os outros detalhes deveriam ser acertados com Marcos Siqueira, representante da FUNAI em Ubatuba. Nos despedimos e voltei para a trilha rumo ao posto de saúde.



Tekoa Jaexaá Porã - Aldeia Boa Vista


Um ponto que achei interessante registrar foi que quando cheguei ao campinho de futebol, havia uma criança, que fugiu assustada. Com esse acontecimento, percebi que será difícil “ganhar” as crianças.

Chegando de volta ao posto de saúde, voltei a conversar com Dona Íris. Falamos sobre viver nas aldeias. Ela disse que não troca a aldeia por nenhuma outra cidade. A enfermeira também contou que seus filhos moram na cidade, mas sempre que têm oportunidade voltam para a segurança e o sossego da aldeia. Dona Íris trabalha há 32 anos na FUNAI, e há 13 na Aldeia Boa Vista. Nestes 32 anos, a enfermeira já trabalhou em quase todos os Estados do país.

Fui convidado a conhecer o posto de saúde. Nele estão expostas fotos antigas da Aldeia Boa Vista e de outras aldeias onde Dona Íris já trabalhara. Ver as fotos foi importante para me dar uma base do tipo de foto que pode ser feita.

Terminei a conversa com a enfermeira desejando-lhe boas férias, pois no período em que estarei na aldeia ela estará de férias. Não tenho fotos de Dona Íris porque ela é tímida e pediu para não ser fotografada.

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